Ecocídio das Serras do Sertão – Volume 1

O “Movimento Salve as Serras” no Verde Campo de Batalhas dos “Refugiados Climáticos”

Neste lançamento do “Movimento Salve as Serras”, mais especificamente as Serras do Sertão Nordestino, objetiva-se deflagrar uma campanha de proteção ambiental com denúncias e mobilizações em defesa da preservação das cadeias de terrenos montanhosos, escarpas, elevações e quebradas que se estendem desde a Serra do Espinhaço (MG e BA), alcançando a porção que vai de Jacobina a Jaguarari (BA) até se estender por Pernambuco e Ceará adentro; regiões dominadas pelo clima tropical semiárido e caracterizadas por uma complexa diversidade social. O sertão nordestino consiste numa região de grande biodiversidade, que registra os mais baixos índices pluviométricos em todo o país - e as áreas que apresentam menor pluviosidade estão localizadas no Submédio São Francisco entre os estados da Bahia e Pernambuco, justamente onde se concentra o cerne destas mobilizações ambientalistas que ora estão convergindo para a criação do “Movimento Salve as Serras”.

Este momento em que ocorre o lançamento é marcado não só pela pandemia, declarada em 12 de março de 2020, que agrava as desigualdades sociais, mas também por pelo menos três fatores sobre os quais convido a todos vocês para uma necessária e cuidadosa reflexão. Em primeiro lugar, constata-se, no plano internacional, uma intensificação das lutas contra o racismo e contra atos de estado inspirados em ações autoritárias e nitidamente colonialistas. Em segundo lugar, observa-se o desencadeamento de um processo de lutas acirradas, com multidões que tomam ruas e praças em grandes metrópoles de diferentes países, com importantes conquistas como estas que tornam o racismo - e, sobretudo, o racismo ambiental - um crime. E, finalmente, para efeitos analíticos os casos de financeirização da questão ambiental ou como o mercado financeiro se conecta hoje com a natureza. Tais modalidades de financeirização dos problemas ambientais parecem se articular com a elevação geral de preços nos mercados de commodities agrícolas, minerais e mínero-metalúrgicas, que agravam ocorrências de devastação, de queimadas, de grandes incêndios deliberados, de desmatamentos cada vez mais ampliados e de usurpação de direitos territoriais. Elas refletem diretamente nesta urgência da campanha “Salve as Serras”. Uma ação mobilizatória em tudo emergencial.

Esta campanha, que já é uma realidade, faculta possibilidades de consolidação de novas formas político-organizativas voltadas precipuamente para a proteção ambiental das serras sertanejas. Este é o ponto a ser aqui sublinhado. São elas que propiciam condições necessárias para o surgimento de um relevante movimento social apoiado em comunidades com raízes locais profundas, que possuem uma consciência ambiental aguda, bem como em fatores identitários e numa perspectiva inovadora no uso de critérios de proteção e defesa do meio ambiente. Os laços entre seus componentes têm sido construídos virtualmente, como ditam as normas sanitárias nestes tempos de pandemia, com pouquíssimas intervenções presenciais e sempre baseados numa redefinição do conceito de tradicional, trazido criticamente para o presente e ressemantizado de maneira apropriada. Do meu ponto de vista, tem-se mais um capítulo de mobilizações populares, não restritas a um grupo ou segmento social determinado, voltadas para a proteção ambiental, sob o manto da dimensão regional, segundo uma presencialidade do passado, assim expressa, resumidamente, nas várias falas registradas em rede, através de interlocuções virtuais: Somos de regiões de serras, que tradicionalmente mantiveram recursos naturais estratégicos para a vida no Semiárido, os quais têm que ser protegidos mediante tantas ameaças e ações predatórias de mineradoras, agronegócios e empreendimentos de energia eólica, porque constituem a garantia de nosso futuro.

Alfredo Wagner Berno de Almeida

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