ENFOQUES MULTIDISCIPLINARES SOBRE DESASTRES

Capa de Livro: ENFOQUES MULTIDISCIPLINARES SOBRE DESASTRES

Os desastres, ou eventos de grande magnitude capazes de causar morte, sofrimento e danos sociais, econômicos e ambientais sempre acompanharam a evolução humana desde os primórdios da civilização. Relatos bíblicos de grandes desastres descrevem episódios de erupções vulcânicas que soterraram cidades inteiras, inundações que submergiram outras e epidemias que levaram a óbito milhares de pessoas. Mas a percepção e o entendimento desses fenômenos variam na escala de tempo e na cultura das sociedades. Por muitos séculos, os desastres de origem natural eram vistos como manifestações divinas e, portanto, deveriam ser aceitos pelos atingidos, como uma espécie de punição dos deuses por atos reprováveis cometidos por esses indivíduos ou por um coletivo, como por exemplo, as citações à destruição das cidades de Sodoma e Gomorra.

Dando um salto cronológico, as sociedades modernas passaram a estudar os desastres não a partir dos seus efeitos e sim das suas origens. A grande questão era: o que provoca um desastre? A partir de uma pergunta e a busca pelas possíveis respostas, começou-se a estabelecer um tratamento científico à análise dos desastres e os seus efeitos sobre as populações. Dando prosseguimento a um padrão de desenvolvimento científico, estudos individuais passaram a ser organizados e reunidos em uma nova área temática no campo das ciências sociais, da saúde e exatas. Percebeu-se desde o inicio, que o estudo de desastres envolvia e necessitava de conhecimentos multi e interdisciplinares, dada a complexidade do tema.

O Brasil começou a desenvolver estudos na área dos desastres com bastante atraso em relação aos países desenvolvidos. Isso aconteceu em parte pela própria cultura brasileira de que o país não era vulnerável a desastres simplesmente porque as ameaças, capazes de produzi-los, não existiam em nosso território. Em discussões informais sobre o tema era comum ouvir frases como: o Brasil não tem terremotos, vulcões e tsunamis, como se somente essas ameaças fossem capazes de provocar desastres com grande número de vítimas. Essa visão equivocada era agravada por outro fator cultural do famoso “jeitinho brasileiro”, ou seja, a capacidade do nosso povo em encontrar soluções rápidas e adaptadas a um problema imediato. Esse procedimento nada mais é do que a improvisação, ou a falta de planejamento, que em situações simples pode até funcionar, mas não para o enfrentamento de problemas complexos como são os desastres. O terceiro fator agravante para o não desenvolvimento de uma cultura de riscos e prevenção de desastres são as fortes características religiosas do povo brasileiro que repetia o entendimento bíblico da aceitação do desastre como vontade divina.

Um marco na mudança desse paradigma foi o desastre da região Serrana no estado do Rio de Janeiro em 2011, em que sete municípios do estado foram fortemente e simultaneamente atingidos por um gigantesco deslizamento de massa que provocou mais de mil vítimas entre mortos e desaparecidos. Esse evento colocava o Brasil dentro do cenário mundial de países muito vulneráveis a desastres, principalmente pela falta de preparo e capacidade de resiliência, tanto por parte da população, quanto pela sua estrutura administrativa, nos planos local, regional e nacional.

Mas na academia e nos centros de pesquisa, estudos já vinham sendo feitos bem antes desse evento o que permitiu que esforços fossem reunidos, grupos se organizassem, e a ciência dos desastres no Brasil rapidamente começasse a tomar forma e a buscar um alinhamento internacional. Vale aqui citar a criação, em 2006, portanto cinco anos antes do episódio da região Serrana, do primeiro curso de mestrado em defesa e segurança civil na Universidade Federal Fluminense, com foco inter e multidisciplinar voltado ao estudo da percepção dos riscos de desastres, bem como a sua gestão e prevenção. Podemos citar também os trabalhos desenvolvidos na Geo-Rio, a criação do COR – Centro de Operações do município do Rio de Janeiro, do CEMADEN em São Paulo e tantos outros órgãos que rapidamente saíram do papel para iniciarem uma atividade tão necessária ao país.

Neste contexto a edição do livro Enfoques multidisciplinares sobre desastres, organizado pelo Núcleo de Pesquisas sobre Desastres da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (NUPED-UFRN), que é formado pelos grupos de pesquisa GREPE, GEORISCO e GPSICODESASTRE, vem dar uma importante colaboração ao tema, não só do ponto de vista de uma abordagem multidisciplinar, mas principalmente na demonstração de que o tema prevenção de desastre tem agora um caráter nacional, não se limitando às regiões Sul e Sudeste. A parceria e integração entre todos os atores envolvidos no estudo da prevenção de desastres, em todo o território nacional é que construirá bases sólidas para a criação de uma cultura de risco e prevenção de desastres no Brasil.

Niterói, 02 de outubro de 2017

Prof. Airton Bodstein

Mestrado em Defesa e Segurança Civil Universidade Federal Fluminense

ABRRD - Associação Brasileira de Redução de Riscos de Desastres.

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